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29 de março de 1989: por que essa data é tão importante para os metalúrgicos de Itatiba e região?
Essa pergunta se responde pelo retrospecto vitorioso de luta e conquistas que esses trabalhadores tiveram ao longo desses quase 33 anos desde a criação do sindicato.
Seu fundador, José Avelino Pereira, o Chinelo, é dessas pessoas para as quais costumamos chamar de visionário.
Quando ele deparou com um grupo de trabalhadores itatibenses da empresa Ibramafe, do mesmo grupo da Valeo, descontentes com a falta de direitos, dos mais básicos como piso salarial aos mais complexos com a falta de Sindicato na cidade, afinal, os reclamantes foram até Jundiaí na busca de auxílio, imediatamente, com a larga experiência sindical que o Chinelo tinha, ele não só acolheu aos trabalhadores como começou uma pesquisa das cidades da região que se encontravam sem representação legal com o o sindicato constituído.
Em consonância com o Dr. Álvaro Gea, estabeleceram que as cidades em torno de Itatiba, Vinhedo, Valinhos, Morungaba além de Itupeva, um pouco mais distante, deveriam formar a base territorial. E concordaram, também, que a cidade de Cabreúva, mais distante ainda, mesmo sem representação sindical não faria parte dessa formação.
Teria sido um erro? Pode ser, se considerarmos o crescimento daquela cidade três décadas depois.
Contudo, desde aquele distante 29 de Março de 1989, temos a certeza que esse Sindicato participou de todas as grandes lutas nacionais que aconteceram. Esteve presente em todas os movimentos que envolveram os trabalhadores brasileiros.
Chinelo sempre acreditou no projeto e na importância da formação das centrais sindicais. Seu entendimento era que por meio da central sindical era possível unificar as lutas dentro do território nacional, levar mais longe as questões que eram comuns aos trabalhadores das 5 regiões do país, com a central sindical o Pará se unia ao Rio Grande do Sul.
Mas, voltando um pouco a história da criação do Sindicato dos Metalúrgicos de Itatiba e Região, Chinelo sempre contou com um fiel escudeiro, o Zé Gaiola, parceiro de primeira hora, infelizmente já falecido. Os dois fizeram a primeira greve na empresa Tasseli Neto. Na época a empresa pagava o décimo-terceiro salário no dia 23 de dezembro à tarde e em cheque! Para se ter uma ideia dos abusos. A greve foi pelo pagamento da primeira parcela do 13º…aí, a luta não parou mais.

Essas lutas, naquela época, foram duramente reprimidas. Chinelo se recorda de ter sido preso ao menos dez vezes durante as greves. Seu “crime” foi o de sempre estar à frente do sindicato em defesa dos direitos dos trabalhadores.
A campanha pela conquista da cesta básica foi grandiosa. Outra benefício conquistado foi o café da manhã nas empresas, hoje parece pouco. Mas naquela época, uma parcela significativa dos trabalhadores não podia se dar ao luxo de tomar café em casa, pois faltaria aos seus filhos. Vivíamos uma época de fome.
O visionário, chamou um empresário, Jair Pontes, com pensamento mais voltado para as questões sociais dos trabalhadores, e lhe disse: “faça uma experiência com os trabalhadores chegando 10 minutos mais cedo, ofereça o café da manhã e você verá como a produtividade desses funcionários irá melhorar”.
Jair Pontes, amigo do Chinelo até hoje, aceitou a proposta, implantou e certificou-se que o Chinelo tinha razão.
Depois disso, vieram muitos outros benefícios as custas de muita luta. Para exemplificar, convênio médico e plano odontológico.
Esse Sindicato sempre esteve na vanguarda das lutas e das conquistas, sendo referência nacional em muitos momentos. Nada, nenhuma conquista, “caiu do céu” ou foi pela bondade dos empresários, tudo sempre foi com muita luta e paralisações. Literalmente com confrontos, sangue, suor e lágrimas.
Chinelo sempre diz não ter nenhum arrependimento ao longos desses mais de 30 anos. Hoje o Sindicato está estruturado com sede própria, veículos, escola de formação profissional e clássica. E mantém, como era nos idos de março de 1989, a presença na porta das empresas e a mesma postura aguerrida e digna nas negociações coletivas. Isso é provado pelo fato de nunca ter precisado da Federação para encaminhar as negociações.
Existe muito orgulho no fato de ter criado uma máquina que ajudou a consolidação da democracia brasileira e sempre esteve ao lado dos trabalhadores defendendo salários melhores, a PLR decente, plano médicos que atendam as necessidades, principalmente para aqueles que ganham o piso salarial.
De ter organizado CIPAS realmente comprometidas com o chão de fábrica e não com os interesses dos empresários.
José Avelino, fala com olhos marejados que: “o sindicato foi o projeto da minha vida e me orgulha tê-lo criado”.
Como diz o poema: “E agora, José?”

Depois de ter realizado tanto e ver chegar a aposentadoria, é hora do merecido descanso, certo? Não… quem foi forjado na luta nunca para. O Chinelo participou da fundação do Sindicato Nacional dos Aposentados do Brasil – SINAB – e em junho passado assumiu a presidência garantindo que esse será um dos maiores sindicatos do Brasil.
Chinelo resume sua disposição depois de tantos anos com a seguinte sentença: “eu continuo na luta, nunca corri atrás das coisas, na minha vida preferi correr na frente. Entendo que quem corre atrás está sempre perdendo”.

Sábias palavras do visionário José Avelino Pereira, o querido Chinelo.